sexta-feira, 31 de março de 2017

MIGALHAS TOPOGRÁFICAS

Desviando de condutas irreparáveis
me vi sentado na rocha a pestanejar
não tirava conclusões precipitadas
nem via moçoilas a me interrogar
era notório o caso de perseguição
muitos destilavam seus venenos
até mesmo salivas da presunção
era pegajoso o choro que me escandalizava
e fazia cacos de vidro
serem mera caricia no olhar
eu estava deprimido e perdido
nesse bosque de ilusões
estava submerso em sangue e farpa
a ordem cronológica dos meus delírios
se perdeu em horas insanas
mas era hora de reativar as pálpebras
recordar que a bondade era um deleite
a amamentar frutos da alegria reprodutora
a fertilizar todo solo que engrandece
quem não esfarela as mazelas e seus desastres
se ergue com a força dos guindastes
e nunca se deixa abater á toa
num lapso entre agonia e canoa
não deixei prantos caírem no riacho
nem mesmo a orgia de meus cactos
fincarem espinhos em minha vida avassaladora
me absorvendo de hóstias condutoras
de sentimentos passionais e atípicos
fui consagrado herói das ramagens
vi a água das minhas colheitas
drenarem um horizonte perdido
transformar planícies costeiras
em amados eixos frontais
me esquivando de súplicas grosseiras
deixei de calar asneiras
e passei a procurar certezas
que todas as lastimas são passageiras
o que dura é a longevidade dos ininterruptos

SAQUEANDO OFÍCIO

Esganiçado em doses reumáticas
se alivia em terreno bandido
procurando ladrar a fome
saciando as feras do covil
da tapera onde habita
intacto ressalva seu cansaço
mas permanece inteiramente acordado
mora num ambiente nocivo às celas
onde presos já pagaram seus castigos
e ilesos da desonra pagaram fianças
as cifras do pecado perdem valor
quando sintonia entre estagnados e trabalhador
constrói um habitat afastado de transformação
atrofiado em remorsos poucos puritanos
sai numa briga cotidiana contra seus empregados
é de se espantar o mesmo cilício
que já contaminou os intrínsecos mais amados
os olhos úmidos do rancor
gotejaram lágrimas de torpor
deixando a saliva das naus náuseas
atracar na maresia do desalinhado amor
o ladrão busca reencontrar suas vitimas
sem se deixar levar pela fragilidade dos inocentes
e sim pela brutalidade das penas mais abruptas
nos virtuais encontros lastimáveis da dor
é real o arrependimento do saqueador de traquitanas
que só roubou o que sobrou de suas entranhas
e que agora leva a encobrir despudoradamente
a vergonha estampada em seu rosto
é um facínora lisérgico que já fantasiou mentiras
e que hoje se esconde nas verdades
a vantagem de ser um déspota
certas feitas nos causam fascínio e avareza
mas outras nos tornam adeptos do sarcasmo leigo
temos que nos tornar algozes sábios e prendados
e roubar só o que nos trás sossego













FUGA ATRAVÉS DE OBJETOS

Fugi dos escombros engolidos pelo fracasso
das pedras que serviram de torre às pragas
não haverá queda sobre pedra
a me derrubar com seus desastres naturais
escalarei os edifícios com altas protuberâncias
e as luas com maiores cavidades
as crateras lunares irão ceder seus lugares
às catracas bitoladas e ao ferro velho da novidade
é excitante meu esquema tátil
de sustentar as hastes que me equilibram
de encontrar mocidade nas velhas engrenagens
e de cobrir antigas feridas com novas bandagens
é miragem que dissipa meus olhos atentos
enquanto procuro oásis e seus segredos
mas não me deixo enganar por muito tempo
tenho as rédeas do meu instinto
a mercê das brisas coloridas e do vento
mas as brasas reprimidas não queimarão meus pés
para que eu fuja das labaredas deprimidas
sou cofre forte das minhas idas e vindas
não me abalarei facilmente
não escapo de tremores que me aterrorizam
e nem de abalos sísmicos que cismam comigo
só tenho barracos atrevidos
quando não tenho riqueza em meus cílios
que abrem e fecham pra encontrar em meus versos
encantamento de estrofes e capítulos
sou um poeta que vive de resquícios





















RUAS DAS FLORES

Trafego em zonas restritas
meu âmago atropela enfadonhos
que se cansam de atravessar estradas
dobro esquina como quem amassa papel
e não se importa com as vias
simplesmente se enxota
quando dá sinal de repudio
evitando qualquer atmosfera
da mais bela e condizente
ao mais lindo continente
se me expulsam dos trópicos
tento criar expectativas
que não atrofiam termômetros
que deixam o suor escorrer com facilidade
e que permitam a sensibilidade suavizar o inimigo
como arranjos de pétalas no limbo
sem me importar com a direção
se os lírios desabrocharam na estação
ou se petúnias calaram odores perturbadores
nas lacunas de meus ouvidos
tento escutar o perfume dos lábios
a voz doce de uma rápida amnésia
com o instinto de esquecer os temores
e lembrar das mais trepidas emoções
dirijo meus pensamentos em alvuras coletivas
repudiando blasfêmias e tolices
coletando cálices de barítonos
pra que um dia eles cantem suavemente
façam remoer amores em meus tímpanos
e assim eu ouça os meus gritos
acolhedores nas súplicas dos calouros
que levarão carvões a grandeza dos diamantes
para que mais tarde possam extrair de suas lições
aprendizes de professores

SENSAÇÕES

Tento entreabrir as vocações
de cada segundo da imaginação
junto com ela busco abrir o credo
e acreditar na força da mente
busco ser a planta e a semente
que findarão no orvalho da manhã
faço saliva brotar da boca
para que a fantasia de viver
eu possa mais uma vez degustar
e sentir a seiva do mel
a cada momento me inundar
busco minhas invocações
meditar tranquilamente
será minha sina daqui pra frente
quero ser conhecido como ente
que envolve seus próprios atos
em prol da alegria constante
de combater percalços
sou um vitorioso presente
a cobrir os caminhos por onde traço
traço o elmo e o elo
que me encorajam a ser protetor
e não presa dos meus alarmes falsos

NO PARAÍSO PODE SER ISSO

Unindo a haste perfeita
me sinto famigerado ao extremo
como se estivesse no paraíso
fugindo de meus problemas
tento curtir melhores acalantos
e nunca me perder dos guizos
pois eles me fazem recordar
que cada serpente é um antro
de perdição a ser esquecido
nos semblantes mais larvais
encontro a origem dos meus nervos
explícitos e navais
eles empurram as embarcações
e deixam as ancoras para trás
nos barcos há uma proa que separa
toda discórdia que se arrasta
deixa os marujos indefiníveis
acompanhados de restos
que querem ser reconhecidos
e não cria máquinas
que se alojam nas arestas do desperdício
mesmo nos momentos de calibrar compromisso
eu respiro com tamanho alivio
nenhuma praga pode açoitar pelos
que se soltam dos signos animalescos
pois eles têm a garra de decifrar o futuro
não são como fantasias de carrascos
a ignorar a fórmula e o soro
podendo curar o mal
toda presa culpa o predador por sua fraqueza
mas não é de se espantar que no mundo
ainda existam troféus de beleza
no paraíso volto a dizer
me sinto como quem foge dos resíduos
que tornam perecíveis as virtudes
sou um rapaz assíduo
mas nunca cavo o fundo do poço
com os mesmos tratores
nem mesmo escravizo personagens e atores
que sejam eles reais
fictícios
ou semelhança entre meus humores
prefiro rir ao gozar de meus atrevidos horrores




VAGA, INSETOS E PRATAS

Candeias acesas e lampiões
estacionamento para vagalumes
é o céu estrelado e sua noite iluminada
depositando lareira de insetos alados
se vê um véu de fogo ardente
guiando os faróis e suas asas
se vê um aeroporto de libélulas
tendo nuvens como suas casas
um arco de néon se forma a esmo
de soslaio vejo luas prateadas
e a noite trocando lâmpadas por si mesmo
o luzir das farpas não cortará os dedos
só guiará as mãos até a obra
obra de um Deus único e prestativo
que espalha as maravilhas do mundo
e que não conta seus segredos
o tenor das harpas encantará os ouvidos
enquanto no teor dos olhos
brindarei mil cantos comigo
o louvor das pratas incendiará seus brilhos
para que no calor das matas
o encontro com as fadas seja mais sensível
nada é obsoleto quando pedras
se acendem em outros seixos
faíscas ovulam em partos arteiros
e a arte se desenvolve
sinto que a vida renascerá de joelhos
dando graças a benção de um carpinteiro
que veio nos afagar os seios da natureza
e nos alvorecer com o lume da beleza

CORES,FIGAS ,CONSTRUÇÕES E ARTE

Nenhum selvagem ganancioso
tem a astúcia de se enganar
mete medo em assombros de cores
não sai a noite a pintar
tem como cúmplice as aquarelas
mas nem sempre pode se afundar
nem colorir de gesto a penumbra
e num riso de sonhos se articular
esse comparsa a paisana
se policia quando caça favores
é o favorito das lâminas
quando corta no ar as canções
canta com uma voz aveludada
pra disfarçar seus pulmões
enche de ar as tremulas palpitações
que escorrem das veias
e não tem onde se posicionar
é o rei das falanges caolhas
mas tem um olho a guardar
em todo armário seus escombros
seus depósitos de pavores
são gritos que não podem calar
em meio a assobios nocivos
não consegue respirar
tem um tímpano atrevido
que consegue te escutar
está as margens do tropeço
mas sempre se põe a levantar
é um destemido saqueador de figas
vê a sorte perto de seu lar
nunca mora sozinho em suas aflições
mas tem um caminhão de pipas
a erguer suas boas emoções
é uma sincronia entre atalhos e caminhos
nunca se perde de vista
mesmo quando em seu talho de conquistas
perde-se de seu antigo armazém de carinhos












ALTOS E BAIXOS

Joguei meu charme matinal
pra minha escova de dentes
limpei toda sujeira
de uma cariada vida descontente
assinei com sangue e rubrica
as cartas que lhe enviei
você disse que foi eu que zarpei
mas fiquei a ver navios
quando lembrei dos teus sorrisos
nunca respondeu meus emails
hoje estou mais metade que inteiro
lembrando dos teus segredos
a solidão é um objeto de realce
realça sentimentos inoportunos
desafia alvos cristalinos
hoje moro num curtume sem tetos
só pra ver o espaço ao relento
me lembrar das memórias enevoadas
quando deixei a cabeça ao vento
recordando nossas culpas
lembrei dos bons momentos
e de te ver sempre ao meu lado
hoje sigo o trajeto das névoas
a escuna da escura lapide
não segue mais seu amado leito
mas veta o contentamento
e mantém o coração desperto
tento esquecer das horas a fio
que liguei meu sentimento ao verbo
e tentei amar você
não vejo mais ninguém por perto
só o maremoto cíclico do seu desmerecer

DESTINO

Só do pó retorna o essencial
que é a ampulheta e a areia
ansiosos prestam queixas ao sol
vasculham cada grama de farol
encontram o mar aberto
mesclam dias noturnos com noites diurnas
e encontram a cada centímetro de seus lares
fagulhas de incertezas
sobre as faíscas do carisma não restam dúvidas
o estigma é badalar climas com elegância
encontrar a temperatura que une sentença de vida
não deixar a morte perpetuar
mesmo que o calor afogue em suor
resquícios de ferida
e machucados graves sentenciem a dor
dos escravos sórdidos que não atenuam a paz
que servem de indivíduos carcomidos pelo rancor
o instrumento agora é a fúria constante
que não para e deve estacionar
o acessório da ganância é a fantasia da relutância
nenhuma entidade tem mórbida semelhança
com a insensatez que leva sanidade
até o pedestal da demência

quinta-feira, 30 de março de 2017

ÁUREOS

Vou contar os dedos das mãos
como quem desfolha seus quilates
forjando seus anéis incrustados
procuro remover com álcool os desgastes
que tingem a mente de preocupação
vou dourar a ouro minha alquimia
que é destilar segredos ilusórios
vou remover as pestes públicas
pra não andar na multidão
sonhando acordado
vou bocejar vagarosamente
e flambar as labaredas da visão
olhar com doçura meus critérios
meus créditos de devoção
assim pretendo desposar maciez infindável
não cair no peso das armadilhas
que criam embalagens frágeis
vou abrandar o teor cético
das minhas peripécias divinas
falar em tom raquítico
que pretendo lapidar minha estrutura
minha cartilagem óssea
tem motivos de sobra
pra não se assombrar com corpos
que aglutinam lamentações

PRESSÁGIO DE UM PEDÁGIO

Pressagio de um pedágio dizendo que é momento
de refletir e se acolher dentro de si mesmo
não se acanhar diante das imperfeições
que criam obstáculos que apertam
o egocentrismo como esfera de tentáculo
que paira no ar e mostra seus falsos abraços
um planeta abandonado sem gente
sem pessoa vivendo nele
uma falta de sacrilégio dizer que tenho alma
quando meu conteúdo é a inveja dos solitários
que cultivam suas próprias solidões
submersas em falso moralismo
é a antena da pureza que detecta outros seres
que fareja a grandeza em muitos afazeres
a ação dos inertes reconstrói a vida atroz
faz continente ser contingente em noite de glória
parada obrigatória é sinal de proteção
de que tudo irá glorificar as hastes da vitória
e nunca se perder em vão
devemos buscar acompanhamento
sem que para isso inundemos de súditos o pensamento

ALGAZARRA E GRAMÁTICA

Travas nas línguas que não têm muito a dizer
que definham letras , palavras e sílabas
há um gotejar de vogais minimalistas
no paladar que dita consoantes
ninguém está a salvo da gramática
ninguém corre para longe
quando o acento é mais soturno
o dia desperta seus laços
une um emaranhado de fissuras
que não se corrigem
nem mesmo em clínicas orais
trevas travam o celeste silenciar
daqueles que já falaram muito
mas o céu não tem lugar pra mudos
nem mesmo pra quem não escuta
o cintilar da lousa áspera e fria
não há caminho para os surdos
não há intervenção para a ausência
de todos os sentidos
quando tolos estão fadados
a se aventurarem em hospícios
o que escuto são gemidos
e pingos de pavor caídos no chão
pausas momentâneas são semáforos
sinais de ausência e movimento
farejo meu esquema tátil
apalpo minhas mãos calejadas
surradas de sufoco e desavenças
brasas não pisam em meu fogaréu
servem de escravas e réu
de toda brisa que passa
e atrofiam semblantes camaradas
que da vida não fazem mais nada

À PARTE

Capitulo à parte
estou inteiro em minhas convicções
de que todos irão superar limites
se aventurar em notas ressoantes
que irão decantar guturais vozes
vindas de um palacete luxuoso
onde seres luminosos se engrandecem
quais os laços que unem a luz
que luzirá as vertentes da escuridão?
discurso à parte
fico entreaberto pra qualquer resquício
de verdades fechadas e caladas
finco nas raízes faladas
meus hematomas de arrependimento
sinto o inchaço frágil do bom senso
reativar a razão
versículo à parte
trinco na base do meu sossego
desafio aqueles que irão surrupiar
toda gestação de meus passos
rumo ao crescimento de meus gestos
forneço a estrutura
que irá assinar em meus cadernos
palavras de libertação

LINHA TÊNUE

Sinto você mesmice das horas
me comover com seu relógio
unir as adagas dos ponteiros
e fazer sangrar meu peito
é hora de espichar o tempo
num gesto derradeiro de prismas
que iluminam os solventes matinais
dissolvendo as dores do passado
já estão úmidas minhas pálpebras
minha retina não perde
em nenhuma hipótese a usina de lágrimas
e irradia teus celebres prantos
num cavalheirismo precoce
galgando hospitalidade
de sentimentos puros e inocentes
os minutos correm apressados
os segundos devoram os dias
é hora de costurar a linha tênue
que separa as dores do amor
enxergar os risos acelerados
os sorrisos disparados
sem se perder na alcunha de caçador
na temporada de caça as estações
sou predador de meus achados e embriões

quarta-feira, 29 de março de 2017

DUELO ENTRE RIACHO DELGADO E AGUACEIRO DANADO

Fisguei meu ligeiro compromisso
de entreter as varandas do naufrágio
e no quintal das águas claras
procurei meus comparsas
os lacaios embandeirados pelas fontes
murmurantes do riacho delgado
já diziam que as sombras
serão elmos que envolvem mentes
radiantes de atrocidades
o enfartado perdeu o medo
de desafiar os corações
se viu submerso nas marés
que inundam calmaria inversa
são abissais as ondas que batem
nas praias coléricas do sal
é bravio quando o pavio
se acende e inunda todo rio
no mar não há desvio
para um desvalido de conduta
ébrio até as últimas pontas do dilúvio
o aguaceiro danado perde seu entusiasmo
de viver sereno e invade o treino
selvageria e blasfêmia
levando surfistas ao extremo da boêmia
pra que eles encham suas faces
com cópias relutantes de defeito

























ENIGMAS DAS ESFINGES QUE NÃO FINGEM

Numa noite de enigmas
lugares se decifram constantemente
sobre as pirâmides a sífilis se entristece
não tem espaço pra doenças
no caminho que leva aos mistérios
no arco-íris evasivo e sem restrições
um carinho cura as cores pálidas
mas os códigos ancestrais
serão sempre revelados
por mais que sejam carregados de mágoas
em locais aventureiros a ação é diária
não falta cão para ladrar os sonhos
e as prisões estão libertas de fuligens
que asfixiam a morbidez atingível de escarro
num pigarro a garganta celeste engole nuvens
e deixa expandir o infinito
é diurna a verdade intrínseca que une os poetas
os profetas das ilusões não desnorteiam pecados
simplesmente devoram as pestes cardiais
que rastreiam os bons fluidos
numa caixa de algemas
ninguém se prende aos detalhes
nem mesmo ao conteúdo das chaves
que abrem portas ausentes de pontos
é momento de cicatrizar os olhos
não esperar que a razão veja sandices
que deturpam os amores carnais
nas apostas marciais que unem toques
acaricio com golpes graciosos
meu desejo de alcançar o pico mais alto
espero chegar aonde haja ilusões florais
ver desabrochar meu bocejo coletor
coletivo que leva camas até as viagens
que nunca cessam o emocional



SUBMERSO NO INTERIOR

Tombar com o espaço em ascensão
pra cair depois das falhas monumentais
nunca mais subir escadas
se perder em meio ao cais
e não conseguir se levantar
lacrimejar por te derrubarem
não avistar as margens do porto
surtar porque te maltratam
se assustar feito um menino louco
esbofetear o próximo com destreza
antes que se abale com a tristeza
é tudo uma questão de desperdiçar
as próprias limitações com ódio
se afundar na calma cínica
de um desespero real e crônico
num terremoto acalentado pela dor
um badalar de sinos geográficos
estimula o renovar da criação

CORPO

Pés que fazem som no ressoar das solas
uma cantiga de ninar no bater das botas
ninguém esquece o barulho do chão
a casa do carpete anunciando novidade
no solo moram os afilhados da dor
um murmúrio no porão se desperta
despertando assim segredos
que nunca cessam no peito
sinto as batidas do lado esquerdo
clamarem por socorro
sem dúvida quero ficar por cima
não estar por baixo nas decisões
quero aumentar meu clima
sentir o suor das risadas escorrer
esquentar a auto estima
e ao amor também recorrer
viés nunca constrói o revés da cura
a saúde dos pedais
está em quem caminha com fartura
caminhos levam a celestial ruptura
de todos os apegos lastimáveis
e não a tumores sensíveis nos calcanhares

ÓRBITAS

Ordem desmerecendo confusão
fases abruptas de frases ignotas
individualizando a rebeldia
de um emaranhado de cafajestes
desmemoriados em seus requintes
mais aloucados em seus disquetes
é momento de arrumar as gavetas
separar as flores do jardim
de colocar nas brisas o meio
que irá solidificar o fim
não deixar pra amanhã
o que se pode fazer hoje
aloirar as encostas do sol
antes que fagulhas da esperança
se tornem pó
lágrimas nunca molham o arco-íris
simplesmente colorem a água
trazendo resquícios de cor para chuva
e acalmando as tempestades
ordem desmerecendo bagunça
ouçam o que os meninos dizem
que no colo do jovem calmo
nunca haverá cólicas de maldade
mas sabedoria e maturidade
em órbitas cintilantes



























DEFEITOS

Defeitos aconchegam as moléstias do mundo
num subterrâneo eflúvio
me despenco da mais racional inocência
causo na minha consciência um dilúvio
peçonhento sem razão pra lindas festas
afetos geram fetos sem condolência
me curvo diante da clemência
que é deitar aos pés virgens da fêmea
que revela pavor em forma de castidade
nos feitos comoventes da desonra
busco afrouxar as pétalas do meu caráter
e sentir o cheiro da ética
banheiros públicos contaminam minha moral
picham com palavras de baixo calão
todo amor contido em meu coração
guerreiros afloram selvageria em grutas
aonde estão escondidas sedes de vitória
numa agulha sobre o palheiro
mostro que tenho também a fibra amarela
da real covardia imersa na rigidez
que fortifica minha total palidez
transforma alma corada
em traços brancos de vertigem
sou deposito que incomoda os confortáveis
lá no armazém da disputa guardam a inércia
que perde seu status de movimento
quando fica parada em seu leito
sedentos de mangue se atolam em câmeras secretas
não saem nem pelo decreto desse esconderijo
é lá que o escuro protege o bem do claro
num artigo de ingratidão já li bobagens
agora apaziguo devaneios
visitando paragens que servem de hospedaria
um intercâmbio de falsos hipócritas
já foi diagnosticado pelos homens de caráter
agora os detentos da falange pecadora
ditam as regras mais claras da escuridão
que nos tramites ilegais da afobação
fazem pessoas ansiosas se matarem


PRINCIPIO DE PRECIPÍCIO

Sobre um desfiladeiro de trevas
um principio de precipício
que mede a termos de régua
seu derradeiro inicio
nesse saveiro de esperas
eu espero um indicio
de que tudo vai inundar
vou me afundar nas labaredas
esquecer as fendas
que me definem
como cobertores rasgados
que esquentam e não protegem
vou aprimorar meu ego
esquecer das outras pessoas
vou ficar á toa
submerso em meus resquícios de medo
pra que num dia propicio às lendas
eu não seja mais que um mito
de minhas próprias desavenças
abaixo do enxofre do lamento
quero sentir o aroma de bagagens
viajar para um pais distante
além de meu próprio tempo
sobre um rateio de cartas
quero descartar meus anseios
buscar meu veio de cinzas fartas
me fartar de um renascimento
que renasça do cinzeiro
onde eu possa depositar minhas mágoas
vou lapidar meu egoísmo rasteiro
e rastejar feito alma penada
em busca de seus descaramentos

SELVA DE LÂMINAS

Uma selva de lâminas
acariciava os arbustos
que pequenos dilaceravam muitos
era de se espantar o tamanho dos sustos
que coléricos difamavam os outros
nas entrelinhas de um arvoredo
se via escondida a pequenez atroz
que consumia a grandeza de poucos
era notório o calcular de preces graúdas
que afastariam os desfalques e fobias
pra que gestos servissem de alento
era preciso mais que contentamento
era necessário que a proteção dos cômicos
limpasse humor de seus assoalhos
e não pisasse no gramado da seriedade
era preciso nostalgia em forma de criança
pra que na infância o amor
restituísse a saudade
nos vínculos que unem veículos
estão unidas as lembranças motoras
ninguém esquece de estacionar mais tarde
uma guerra de seda tremula
não espanta dos olhos a leveza
e não deixa de fazer voar a libélula
que esbanja em seu pouso a certeza
que seremos felizes para sempre
uma serra que corta a cerca
nunca mais prenderá infortúnios
não salgará o mel das abelhas
pra que mude de gosto a tristeza
que um dia se transformará
em luxúria previa da alegria
pra que num hibernar de luzes
nunca se apague a euforia
é sabedoria absoluta se embrenhar em via
espantar as ruas da agonia
tilintar pelas mais belas avenidas
uma trégua às campinas
que verdes não amadurecem seus conselhos
se entregam ao rústico patrimônio das intrigas
devemos espalhar nossos reflexos na montanha
e avistar a serra que se condensa
diante das maravilhas


ENTRE AÇO E ROBUSTEZ

Supimpa os melindres do aço
aonde a ferrugem faz festa
reforça a robustez
que não atordoa meus lastros
une espaços
que deixam intacta toda postura
corroí os laços
que declinam a fobia ininterrupta
eu faço rima com meu rosto
sabendo que nunca mais serei igual
ao ferro que esculpi minha rigidez
colocarei concreto de enrijecer candelabros
para fortalecer a luz de meus sonhos
deixarei intactos os cálices sagrados
que defendem minha religião primária
que é proteger meus ideais
darei firmeza aos alicerces trincados
para que permaneçam neles suas qualidades
a audácia de viver solenemente
em berço esplendido
me faz ambivalente nas horas vagas
nas crises onde se alastra meu ego
venero minhas dificuldades
e entro em combustão
solucionando qualquer problema 

AGRESSIVIDADE

Câimbras paralisam o conchavo
que existe entre beatos de pouca fé
começam a formigar os membros
de uma sociedade anestesiada
pela falta de bom senso
ninguém está radiante de alegria
todos estão fadados ao esquecimento
desmemoriados pelas fúrias constantes
ovacionados pela estirpe da tolice
juras de pavor não param de vaiar
os aplausos se tornam puros mitos
samambaias estão à deriva nos castelos
as plantas começam a murchar de desespero
enquanto as flores perdem seu cheiro
os sábios esquecem das glórias errantes
não existe viva alma no semblante do poço
todos esquecem de afundar no interior
no interior de suas emoções
e acabam por prestigiar falsos abismos
não conseguem mudar de vida uterina
se perdem no muro de suas origens
castram o orgulho fétido da felina
que não rasteja mais atrás de sua presa
tampas de bueiro fecham realizações
o esgoto não será banido das vidas reprimidas
e o amor será alvo de vandalismo
quando as portas do mundo forem extraditadas
como bagagens sem valor próprio
lâmpadas escravizam a luz dos olhos
apagam a realidade
transformando velas em dejetos artificiais
devemos iluminar os brasões da hospitalidade
não passar o rastelo no solo da infertilidade

















terça-feira, 28 de março de 2017

GUTURAIS

Gutural medo de fazer a voz
entrar em farrapos humanos
de não ver ondas baterem
sobre as rochas estacionadas
o susto se compara as pedras
há um desequilíbrio aparente
que rodeia toda tirania
o mar está bravio na garganta
e o som que ecoa é de ódio
por mais que eu aplique tormentas
sobre os celebres fusos horários
a hora se perdeu nos oceanos
o trevo se perdeu no horizonte
e a sorte morreu sem suas fardas
por via oral eu me farto
de todas as amarras
deixo a mercê dos individualistas
um timbre único de dúvidas
urbana é minha trilha até o pecado
quando falo penso no pânico
que se alastra por toda cidade
por isso mesmo eu me calo
me identifico com a placa
de identidade do meu compromisso
deixo de dizer coisas fúteis
sem carne e sem alma

LARES CAPILARES

Gosto de enroscar meus cabelos
na sua caricatura capilar
de ver até onde vão os fios
e as linhas que unem os pelos
sentir os caracóis mais pretos
deslizarem até os pés
desejo um treco macio
que una minha peruca a sua juba
colar em espessura mediana
todo meu bigode na sua pele
desejo que entre meus restos mortais
não haja uma alusão a calvície
e sinta o sabor cacheado de sua nuca
quando me for desse mundo
prefiro isso que beijar sua boca
e sentir a saliva mais pura
roçando no fuso
quero tramar os barbantes
de sua costura
e saciar sua mente louca
seja com uma touca de repouso
ou uma lente pra sentir seus cílios

NAS ENTRELINHAS

Ergo ervas daninhas
e que se danem as ilhas
cercadas de ingratidão
cego nas entrelinhas
nunca perco a real visão
o uso fruto da sensação
é de vento em polpa
de frescor e adoração
prego selvas cativas
na calmaria de uma ascensão
e mudo minha varinha
para que ela não perca o condão
salvo a seiva da razão
faço magia como um varão
sem excesso de barganha
peço fiado amor ao pão
e de torpor ao próximo
seja afiada a minha salvação
de louvor ao óbito
viva mais cem anos então
treino a arte dos mananciais
dando galopes ao relento
como artes marciais
levanto a marquise das falésias
e não perambulo nas adegas
quero beber só as águas do mar
me embrenhar no açude de sal
quero afrouxar meu riso intenso
e deflagrar as margens do caos
sigo minha poesia até rios urgentes
me aquieto diante dos saraus
subo até a última gota dos degraus
e assim chovo em meus passos
pingos que evaporam
são como vaidade que eu laço
para me aproximar dos parques
onde eu brinco de fato
quero aumentar o volume da felicidade


DNA INDÍGENA

Faíscas múltiplas de conforto
nunca amenizam a desconfiança
são sementes que embalam a dor
e nunca pagam fiança
às suas próprias calamidades
veias entupidas de sol
iluminam o farol das ocas
num compendio indígena
os índios declamam rituais místicos
que acendem as chamas
fazendo das iscas de suas entranhas
um narcótico de camas
que dormem sem acordar
despertam sem afundar
suas próprias façanhas
o cacique das penas altruístas
não se esquece de meditar
e de invocar os espíritos latentes
que podem te impressionar
dentro de uma cabana purista
um rapaz de menor estatura
procura sua lousa
pra escrever em sua rubrica
uma longa assinatura
fogos ao redor das trevas
queimam alpendres em construção
são severas as clausuras
que um dia projetarão amianto
fecharão a infidelidade dos rebentos
que constroem a fome dos primogênitos
saciando a rede de cansaço
alimentam-se de uma febre sólida
de uma pedra polida
e de um instinto animal

segunda-feira, 27 de março de 2017

DELÍRIO À SOMBRA DA REALIDADE

Coloquei meus olhos macios
sobre um emaranhado de delírios
não caçoei dos lírios
quando a corda do sono arrebentou
um serviço nostálgico de gritos
confundiu minha cabeça
e no arco da velha intriga aposentou
as medalhas do cílio
nunca mais avistou os declínios
simplesmente olhou para os joelhos
contundidos pelo tempo
e cortou com as navalhas o meu físico
nunca mais atravessei os trilhos
pois pousei de ridículo
nas tramas do meu deserto frigido
pendi na opaca predileção pelo brilho
acendi as grutas do coração
com candelabros sem retenção
posicionei meus cegos empecilhos
nas brigas de meus filhos
era tudo um núcleo de entidade prática
marquei com minhas calunias a ética
mas deixei afundar meus indícios de moral
porque deixei manchar de sangue
as veias do luar
não se pode chamar covardia de lugar
nem mesmo moradia de despertar
há quem atrofie casas
destelhando os telhados
e num pedalar de gesso quebrado
há quem conserte seus nervos
deixando ossos em frangalhos

















DE VAGAS,CHUVAS E FLORES

De vagalumes o inferno tá cheio 
a retaguarda de luz desafia o diabo 
e manda aos anjos que iluminem o céu
sobre um sobrado de estrelas 
um assombrado de fantasmas dá conselhos 
ao réu que desafiou as sombras do pecado 
e cobre de réstias de galho o véu 
as árvores do gueto infernal hão de açoitar suas névoas 
num lisonjeiro jeito de hospital 
hão de curar suas mágoas 
de guarda-chuvas o inverno tá lotado 
limpando carcaças e tempestades 
na tenra idade das culpas 
o arrependimento molha suas falhas 
mas não enxuga totalmente suas vitórias 
sobre a fertilidade dos traumas 
ninguém sabe quais as casas que acolherão os enfermos
e darão colheita as almas 
astutas as guerras calam as cucas das mentes risonhas 
e não indagam felicidade 
de pétalas o assoalho tá coberto 
o enterro das flores será prematuro 
o cheiro das rosas desafiará os sonhos 
definhando vidas por cima do muro 
o escuro cria seu tumulto 
a brisa abrasadora seu tumulo 
nas covas fundas do percalço 
há quem caminha descalço 
sintetizando mundos turvos 
na beira do caminho chulo 
as cartas apagam suas pegadas 

PELA HUMILDADE

Machucar os conselhos dos outros
é se entristecer com as palavras
vasculhar o porão da memória
é se enriquecer como um sultão
que busca riqueza nas choupanas
já que os palácios são assombros
mergulhados na avareza
devemos repousar em humildes cabanas
administrar as rédeas do coração
e cantar ao som dos mantras
aliviar o cansaço sem mentiras
atenuar o canto das farpas
pra evitar que espetem as almas
e finquem suas facas
mutilando assim as etapas
de proliferação da paz





RAIO,ABELHAS E BALAIO

De soslaio avistei um raio
que começava a cair nas margens celestes
quando vejo coisas belas eu aplaudo
nunca vaio minhas aquarelas
de relance conquistei o favo
de mel das abelhas na colmeia
era o néctar que destilava emoções
nunca falho com minha doçura
ela é incrivelmente bela
caio nas paredes como fera
subo pelas tamancas
e lembro dos meus tempos de criança
onde tudo era novela
no balaio carrego minhas conchas
elas são como moças tomando sol
revestidas de uma plumagem protetora
nos colares submersos uma pérola
relâmpago ditando regras claras


NARCISO

Narcóticos de Narciso
ofuscam as imagens no espelho
deixam seus olhos dopados
pelo calor do momento
muitos acham esse moço feio
mas se atiram em seu colo
na busca de aconchego
nem ligam pra tal veneno
que causa rachaduras no tempo
em que era bela a água do rio
os meninos do sossego sabiam
que a corrente arrastava o brilho
que era de Narciso
eles viam
e na penumbra posta a mesa d` água
a doçura do garoto se alastrava
como carmim na pele do sol
um pedacinho de cetim
cobrindo as camadas mais finas
de sua estética minuciosa
me fez lembrar da maciez
que esconde os rostos delicados
e chover no molhado
parecia criar climas descompassados
diante as reverberações de suas flores
o perfume dos lábios narcisistas
ganhava mil cheiros e cores
era um aroma de banhista
que lançava seus cabelos sobre o lago

domingo, 26 de março de 2017

PECADOS NO PARAÍSO

Um corte nas veias do risco
onde mortas se deleitam de seivas
que decantam a grosso modo
os visgos do paraíso
nessas maçãs empoeiradas pelo tempo
o pecado ficou as margens do passado
e nunca mais se levantou
morreu impregnado de lembranças
afastou de seu convívio as lanças
que já calaram fantasmas
de uma maneira mórbida
nos dias atuais ganha a vida
limpando a sola
de um sapato que não caminha mais
rasgar seus ovários imprecisos
faz da mulher um ser estéril
que rasteja feito os guizos
de uma serpente venérea
e num badalar de símios
a antiguidade se vê renovada
ceifada até a última gota
de um estranho líquido
que goteja nos cárceres privados
a morte preparando os petiscos
que vão engolir durante o júbilo
de uma sorte estagnada
nas sidras escorregadas pelo vento
lama atolando acidez nos viveiros
que não alimentam seus pássaros
e deixam as asas a mercê do senso
ridículo de voar mais alto
que sua própria competência

MIUDEZA

Troco meus hábitos impuros
por meus hálitos bentos
e no frescor da saliva
não há quem me prive de sílabas
monossílabas me digam
porque vim ao mundo miúdo?
pensamentos pequenos me atingem
a todo resquício de insensatez
nessas rugas de um relógio esguio
o tempo atinge sua velhice
na maciota vivo do acaso
prestando sarro para o destino
na roca da inconsciência
finquei meu dedo
vi derramar o sangue da discórdia
quando a dor calejou minhas falanges
dentes abriram frotas que rangiam
portas se destravaram e o enigma
adentrou na memória subitamente
e de poucas sementes
o pretérito estava cheio
lotado de almas falidas
que não ganhavam dinheiro a pencas

DESESPERO

Mergulhado no rio dos ímpetos psicóticos
um profundo admirador da depressão
não se desvencilhava de suas crises
zumbindo através de gritos e gemidos
ele especulava sobre sua face obscura
queria atingir o apogeu das sandices
que fazia de sua vida uma lagoa
de margens limitadoras
sonhava com uma vida igual a dos outros
mas não se desprendia de suas tolas
garrafas de ansiedade
que transbordavam até a boca
via a base que o ligava a conselhos insanos
entrar pelo cano dos bacanas
se fazia de malandro por debaixo dos panos
isso que era agir como sicrano
de pensamentos enluarados
já foi humilhado e rejeitado
hoje desfila em becos estreitos
procurando a saída para seus defeitos
há quem diga que a roupagem da tolice
lhe cairia muito bem
contanto que a sua premissa
fosse ignorar o que lhe faz bem
não se desprendia da matéria do orgulho
e sempre entrava em pânico com seu futuro

BELEZA DE UM PAVÃO

Maciez corta as plumas de um pavão
e ele solta suas plumagens em longa escala
a ponto de bala cortando o céu
rogando belas cores
entre fumaça voando ao léu
essa exuberância de seda
plana como leque
no clarão da aurora
há quem diga que essa ave
faz valsa de breque
no romper da madrugada
destilando seu charme
quando acasala com graça
as asas se abrem e não calam
quando o barulho frívolo do vento
estaciona suas hastes no firmamento
arma um capacete que pertence a realeza
onde figura um topete benevolente
e um corpo que serve de anestésico
pra grandeza de sua gente

INVERNO VERSUS VERÃO

Solstício de um verão viril
me foi encomendado pelo inverno
durante temporada de rosas gélidas
e o granizo que respingava das árvores
parecia uma sombra de afrescos
uma penumbra fantasiada de carnavalescos
no cântico pagão da natureza
uma luz impetuosa acendia no horizonte
e as alegorias petrificadas de gelo
faziam dos troncos das sequoias
estatuas de madeira e farpas
os enredos infames pendiam para o amor
que amargurava os óbitos de passistas
que só caminhavam pra separar ilusões
dos verdadeiros sentimentos de claridade
mas a morte desses sambistas da natura
não viriam só durante o fixar das calotas
polar era o cântico dos árticos
quando blocos se soltavam nas águas
e o calvário das notas ressoantes
fazia da vida um clamor ao calor dos trópicos
a epiderme fria e calculista dos icebergs
fazia naufrágios serem mira da constância
constância de barcos a afundar nos oceanos
a primária flor perdia pêndulos
perdia suas pétalas na geleira
e os assentos de visgos e algas
começavam a se ampliar nas margens
os navios pesqueiros chegavam sorrateiramente
mas os peixes virariam escamas
asfixiadas pela falta de sol
o inverno tomaria seus passos decisivos
mataria um grão de euforia por dia
nessa ambição invernal





A BUSCA

Busca por um elmo perdido
tesouro nas vísceras de um louco
que deixa a escassez de lado
e perde mais que um canto
perde as amarras de um frescor novo
as verberações das cantigas
o luar do sertão
não deixa escapar as feridas
e amarga o louvor do coração
dita as regras e números audíveis
para que mesmo na conta precária
entre na colisão sumária
imerso em emoções sensíveis
busca por um sândalo raro
que pulverize escândalos
trazendo a paz pra todos nós
como um bando de albatrozes
e aves do percalço apagando faróis
na prole dos varões da inércia
há um primogênito que é gênio
mas que se faz de tolo
pra que morra de fome
e mantenha uma chama pobre
busca por um teto esquecido
pra que não tenha casas e paredes
nos alpendres da moralidade
cuca sem teor católico
mucama sem afinidade
destino vestindo o óbvio
no galanteio da fatalidade



sábado, 25 de março de 2017

NO GABINETE

No gabinete dos covardes
uma sensação de brilho opaco
restituindo o calhamaço de papéis
e definhando as folhas do pensamento
pois muitos esquecem de abrir os olhos
e de sentir que esquecimento é enfadonho
que desfalca as mãos dos corajosos
no gabinete da derrota
um sonho perdido nas trevas
uma guerra de incógnitas
sem aventura de espíritos decentes
o caos se aflora
esses cravos em botões
perdem suas mentes nos cobertores
dormem afastados do afeto mútuo
que calunia a imagem dos cavalheiros
e denegri a imagem das donzelas
verdadeiras deusas do amor
caluniadas pelos alicerces do medo
no corredor das infâmias
morrerão ressecadas as begônias
pelo peso atroz das bigornas
e pelo incesto das insônias
vertigens que acometem os incrédulos
justiceiros de pouca fé
que perdem suas preces
em meio a infernos sem paraíso
farei de conta que sou principio
de um calabouço intuído pelas intrigas
e trancado pelas brigas
farei dos meus pés um passatempo lúdico
com serenidade e idéias fixas

UM TURBILHÃO

Cócegas de riso intenso
alvura em minhas cordas vocais
trajetos de cajueiro
doçura dos mortais
me fazem fagulhas brotarem do caos
um armazém de produtos invisíveis
abrir as janelas da humildade
e assim calo os nós do alambrado
e ganho minha cura risonha
sem deixar maçãs do pecado
acobertarem meu entusiasmo
gargalhadas dentro do pescoço
unem o laço que me fazem audaz
esse mesmo laço constrói o futuro
um turbilhão de percalços
acontece a todo instante
no tilintar de meus passos
faço das rédeas minha égua radiante
mas minha água ardente
dos dias de hoje
me faz colérico quando cesso meu ás
nos campos felizes de anos atrás
é comovente a tristeza de certa gente
que se prende ao passado
e não vive o presente
mas a alegria há de mudar os sonhos
e trazer pra perto dos olhos
um colírio de bondade

BARGANHA

Troco meu charme avarento
por noites de insônia prematura
faço um intervalo nocivo
para que não haja bocejo
nas minhas trevas diárias
compro uma penca de subterfúgios
no meu inconsciente
troco mercadorias por ação
que me leva a corrigir meus erros
num horizonte de avencas
numa planície de orvalhos
rompo minhas frágeis pernas
subo num metrô pintando de aquarela
que leva minha imaginação até os limites
e que estende surtos de amizade
tenho poucos amigos
mas faço deles um arquétipo de beleza
pois são eles meu sustento
para uma vida inteira

ECOS

Fortes alianças com trovões e céus
cobertores de nuvens no alento
que corta o azul da cela
e liberta o firmamento
amores na lagoa ereta
onde a água se desperta
e afina o pensamento
dores no relento
onde ecos da selva
sensibilizam sentimento
flores ao vento
onde perfumes se dilatam
e deleitam rosas no leito
peguei minha frieza constante
e congelei meu ódio rente
para que corrompesse meu consciente
na finura de um lampejo
diante a ruptura de um beijo

METRÓPOLE

Vi avistarem o sol com a rua prateada
por onde passavam carros também prateados
o asfalto era uma forma de construção
e as rodas ferviam no chão quente
pessoas caminhavam desesperadas
e o desespero era calor que não se atenuava
por mais que gritos ecoassem das avenidas
havia um tremor nas cabeças descompassadas
fieis carregavam cruzes e enfeites de devoção
os hereges blasfemavam contra o poder das autoridades
era cínico o badalar de dentes na cidade
o medo piorava a cada vão momento
e as trevas das concessionárias pediam mais automóveis
para entupirem as luas de um espaço sem ascensão
favelas e suas nuvens embriagavam de poluição
o ar remoto sem controle piorava radicalmente
o mar não serenava na praia do pânico
cada lugar que via era penumbra
hasteando as bandeiras da ferocidade
o manto da discórdia cobria os leigos
e as mãos ocultas do prazer
acariciavam a sabedoria dos lacaios
fazia parte de todo mês de maio
entristecer sozinho num alvo pálido
e atirar as flechas em busca de harmonia








VIDA E SEUS CAMINHOS

Fui a tumba de meu próprio ventre
encontrei a vida clamando por retorno
vi a lua e seu circular contorno
quando aliviei o cansaço da mente
o corpo clamava por uma nova chance
de prestar contas com a alegria
o novo avistava o morto
e pedia uma nova trilha
a milhas de um contentamento pleno
vi castrarem as filhas do ledo engano
se a mobilidade estivesse mais amena
gastaria a caridade de uma brisa plena
quando eu sai da cova dos meus delírios
me senti mais vivo que os desafios
que ainda estavam por vir
que os lírios da honra me fariam agir
em prol de minha seiva e felicidade
aceito as arregaladas fúrias
até mesmo as amadas culpas
frente a olhos cansados
preciso de uma menina que me deixe acordado
e a retina que me faça guardar
as licenças do lar
onde quero comigo me encontrar
dias sorvendo goles de lucidez
noite aglutinando uma nostalgia sem mudez
e sobre as viagens de minhas entranhas
quero uma força estranha
que me faça encontrar o melhor caminho
longe da friagem que me deixa sozinho


PECADORES

Pecam os trabalhadores de plantão
que esquecem do seu quinhão
e não plantam os primeiros grãos
servos famigerados da imperfeição
carrascos de um único patrão
que não rezam diante da fé e adoração
eles creem em suas próprias aflições
são carregados de tapas nas costas
e congelados pela atenção
chamam a morte como forma de expressão
se banham em largas portas
e não abrem para o coração
são crianças mimadas nos córregos
e cirandas sem canção
já diziam os devotos dos endócrinos
é hora de aflorar a pele
e martirizar os espinhos da redenção
é hora do ceticismo lançar seus dados
e acolher a sorte das crenças
momento de plena erupção
acionar os velhos sinais deixados por herança
e fitar os olhos sem pagar fiança
pecam os adoradores da questão
que sussurram falsos rumores
e que não dialogam com seus tutores
é momento de pagar com a mesma moeda
as cifras do orgulho e da inveja
de armar a tenda
e afastar as cercas do suspense
para que na labuta muitos pensem
que no aconchego do lar
há quem saiba amar

















TRAVANDO GUERRA

Em meio a sombras delirantes
a carniça debruçava suas lastimas
a cabeça lastimava ameaças
e o ombro dissecava-se nas matas
era lisonjeiro o açoitar de corpos
ruminando a esmo
e as incógnitas do tempo
diziam que o amor estava em pedaços
ninguém morria de fato nos campos
entoava um só pranto
e chorava órbitas e desenganos
era de derramar vitórias
cada gota ininterrupta de fracasso
e a derrota perpetuava nos corações
onde o homem passava horas a fio
num compasso intrigante de idéias
e os tecidos rígidos da lisonja
interrompiam as mortes súbitas
quando havia ainda ar para respirar
os trajetos emoldurados da ira
ofuscavam o sol nascente
e declinavam o poente
eram lindas as cóleras do mundo
as feras gananciosas do lirismo
onde os poetas sanavam dores
e declamavam seus amores
troféus do exílio coletivo
e dos pecados aflitivos
nas selvas intrínsecas do desperdício
haviam ainda almas variando sonhos
catalogando adornos
desperdiçando vidas
e as nuances dos mortos eram obras
intermináveis que não cessavam
formas tetraplégicas de consumo
arquétipos de insensatez e loucura
em meio a câimbras e avarezas
o monstro da fartura devorava decência
e construía uma sociedade arrogante
formada por cartas na manga
trapaça e um punhado de avareza
no fim tudo era incerto e colibri
voando fora da tristeza

SÍNTESE DA FOTO

Plantei os trigos da minha infância duvidosa
nos olhos calorentos de um verão pegajoso
e cheio de conjuntos harmoniosos
declamei um poema de pássaros alados e uniformes
pra sentir o cintilar das asas no ventre da coruja
e me virar conforme as notas da música
que cálida e profunda produzia sons furtivos
e passos altivos no ressoar da madrugada
era pálida a minha alcunha de hospedeiro do mundo
me servia de alcateia aos lobos da perseguição
e os louros da sofreguidão austera e sem comoção
me subiam a cabeça desvairadamente
com um único grão de semente
a rodear o chão por onde pisava
e os menores infratores destilavam conhaque
no som etílico que se propagava meio ao caos
nem todos as leis empíricas calariam diante dos tremores
e vi em meio à sombra dos curtumes o calor dos suores
que serviam de magistratura holística
frente a doença que assolava a cidade
e a crença de homens alados e celestes
perpetuava além da imaginação
além do festivo despertar da oração
e era notória a caligrafia do tempo
procurando assinaturas comoventes
as casas onde moravam os eremitas
passavam em branco diante das marcas
que cobriam a face injuriada dos tolos
semeei truques que calariam meus pés
num compasso desajeitado
e diante das fortalezas vi as tropas do coronel
aliviarem as nuvens do céu
com um sussurrar doce e meigo


sexta-feira, 24 de março de 2017

NO SEIO DA MÃE TERRA

Sonho do vento que percorre momento
se alastra como pasta
que carrego com o tempo
longe da penumbra cósmica
eu me vejo latente
de eras comoventes
revivo meu presente
e hasteio a bandeira no leito
macio que se aconchega
lugar que é colheita
que planta suas ervas
no aromatizante declínio
de minhas árduas ventas
voo como forte labareda
cedendo de frondosas violetas
violentos cometas
e meus olhos comentam
qual o seixo que vê as seivas?
qual o roxo que vê as cores lentas?
e no trópico das minhas guelras
respiro feito peixe no seio da mãe Terra
me afasto das tenebrosas guerras
que se alastram nos corredores tenros
e véus pedem casamento aos corredores
por onde correm as varandas e seus senhores
e no quintal rebuscado de tinta fresca
tiro das cadeiras uma lasca de pernas
é de morrer de inveja a selva de correias
que gritam como assustadas correntes
longe do alcance dos antigos casebres
e na leva de corretores e choupanas
chamo pra me abençoar uma trama
de intrigas leves
nesse arroz de festa e legalidade
que são minhas crises de identidade
faço de todos nossos pais
um emaranhado de confusões
um aperto nos inóspitos corações
ressarcidos de dúvidas cruéis
é de se entender quais os confetes
que irão celebrar os carnavais
e a insanidade dos profetas fiéis
no cume de uma montanha alta
faço pausa pras minhas indagações
e assim corto minhas medalhas
em corpos de navalha e aflições
desfiados pelas celebres ilusões


SEM JULGAMENTO

Não julgue um livro pela capa um rio pela carpa  um herói pela capa  esteja sempre em casa ou  em Capri pessoa imaculada  o eco de mil sarna...