sexta-feira, 30 de agosto de 2019

ANDRÓIDE AMPULHETA

Sou primeiro de mim
nesta estrada sem fim
como séculos atrás
subi imensos degraus
já fui rastro de pudim
moleza dos mortais
hoje sou androide de festim
prisioneiro de cetim
libertador demais
na leveza do sereno
carrego o dom brasileiro
de compor como meus ancestrais
igual aos sábios poetas marginais
nenhum poente me distrai
só a nascente dos rios
pavios
fogos e catedrais
todos cultuam a fé
meus ciborgues leais
só os risos nocivos prejudicam os pés
que caminham no tráfego das auroras boreais
a beleza do tempo
a cortesã do vento
não se curvam diante a trajetória
de efeitos imorais
e a certidão de nascimento
de cada aborto ou óbito
não é um defeito feito para comover sensatos
nem mesmo o boto cor-de-rosa
que amanhece cedo
se mudarmos a cor do azul do céu
não a rebaixaremos a chão
todas estrelas e o véu da noite
comovem o silêncio da madrugada


 
 



PAPAGAIO DE PIRATA

Troco meus trocados por um trocadilho
e um bocadinho de bocas e dedinhos
que me salvam conforme vou salivando
pelo desejo de adorar o sol ainda mais
quentinho nesse calorzinho de verão
não troco uma memória seja ela pífia
ou profana
pela reverência cabisbaixa
de fazer clemência a um santo
meu diagnóstico diz que é melhor
pisar fora da caixa
que ocultar os sentimentos
como é de praxe
virar eclipse de mim mesmo
é pior que virar um peixe fora d'água
e depender de um caminhão pipa
no solo ou no ar
me cortando as veias com cerol
como nó de marinheiro mal feito
ou talvez morrer na praia
com bicadas de gaivota
semelhante a um pirata
que se adorna com um papagaio


SEM JULGAMENTO

Não julgue um livro pela capa um rio pela carpa  um herói pela capa  esteja sempre em casa ou  em Capri pessoa imaculada  o eco de mil sarna...