nesta estrada sem fim
como séculos atrás
subi imensos degraus
já fui rastro de pudim
moleza dos mortais
hoje sou androide de festim
prisioneiro de cetim
libertador demais
na leveza do sereno
carrego o dom brasileiro
de compor como meus ancestrais
igual aos sábios poetas marginais
nenhum poente me distrai
só a nascente dos rios
pavios
fogos e catedrais
todos cultuam a fé
meus ciborgues leais
só os risos nocivos prejudicam os pés
que caminham no tráfego das auroras boreais
a beleza do tempo
a cortesã do vento
não se curvam diante a trajetória
de efeitos imorais
e a certidão de nascimento
de cada aborto ou óbito
não é um defeito feito para comover sensatos
nem mesmo o boto cor-de-rosa
que amanhece cedo
se mudarmos a cor do azul do céu
não a rebaixaremos a chão
todas estrelas e o véu da noite
comovem o silêncio da madrugada