Sigo o aro da solidão
reparo no cigarro
no meio da multidão
a cigarra canta
ecoando fumaça
por onde passa
só eu sei o embaraço
altas horas da madrugada
e eu fumando feito procissão
os hereges acreditam que faz mal
tragar essa fortaleza
enfraquece a alma
e também o pulmão
por tanto não são ateus
que me dão as bênçãos nas mãos
mas aqueles que acreditam no tabagismo religioso
gostam da solitária mansão
onde moram os meus olhos
e minha agregada visão
não enxergo nada perante
o estrábico colchão
e no outro dia a ressaca
me acolhe o corpo
mesmo encharcado de cachaça
reparte em duplicatas minha razão
e tudo é o dobro
durante meu conforto
enquanto houver copiloto
pros meus excessos
e tudo é dúbio
perigoso enquanto existirem indagações
e distrações completando o soro caseiro
com um pouco de dinheiro
atolado nas minhas dívidas emocionais
me manifesto com cifras e grana podre
não pego emprestado de nenhum nobre
cidadão nem mesmo o talão de cheque
pra me abanar com leque
o suor e calor dos produtos
que injeto em minhas veias
até então ébrias e sentimentais